Olha ela!

Hollywood é um mulherão

Férias. Tempo de descansar, de ir ao cinema, de namorar, de arrumar os armários, de estudar (o mestrado continua) e de refletir, enquanto o mar limpa a alma. Pois bem, Hollywood assumiu de vez que é uma mulher. Mas não a que a gente achava que ela fosse. Os tempos mudaram. E a mulher foi ressignificada no cinema. Um reflexo da diversidade, desse mundo plural que não pode ser apagado em nome de padrões caducos.

Habitualmente, as comédias românticas venderam a imagem da mulher sofrida (geralmente dona de casa), apaixonada e dependente (financeiramente ou emocionalmente) de seu par. Os filmes de ação, por sua vez, equilibravam a testosterona dos vilões e mocinhos com a mulher-objeto, linda, jovem, desejada e nada mais.

O que se vê hoje no cinema americano comercial não é exatamente uma tentativa de se desculpar por perpetuar modelos binários e limitados. Porém, não deixa de ser um esforço para acompanhar o movimento Queer que, aos poucos, vai tomando conta da internet. 

Esse movimento, cujo nome também é o de uma teoria acadêmica, inclui não só as mulheres, mas todos os outros sujeitos que vinham sendo silenciados, por conta de uma ordem heteronormativa, impregnada de machismo. Uma imposição validada por condições históricas, sociais e culturais.

Se antes a sociedade parecia conformada e confortável com o molde que reservava à mulher as funções de mãe, dona de casa e esposa, hoje é preciso enxergar além e legitimar uma multiplicidade de papeis que essa mulher já exercia, sem visibilidade. O cinema passou a ser uma vitrine importante dessa mudança.

Não se trata aqui de rechaçar as tradições em nome da novidade e das conquistas. Ser mãe deve ser maravilhoso. Não há problema em ser dona de casa e esposa, desde que sejam escolhas conscientes. Há, contudo, um leque de outras opções. 

Nessa linha, "Casamento Grego 2" é um bom exemplo dessa nova Hollywood. Nia Vardalos (foto abaixo), a protagonista do primeiro filme e agora da sequência, é a cabeça por trás do roteiro feminista, sem exageros. É um produto para a família, porém o filme tenta, aqui e ali, mostrar que as tradições podem ser enfeitadas e adaptadas aos dias de hoje, sem que isso signifique uma transgressão diabólica.


A família grega está lá, inteirinha, com valores enraizados no casamento, na união, no amor, no compromisso. Os contrapontos têm um peso charmoso desta vez. Entre eles, uma adolescente que não se enquadra, sonha com a independência, não pensa em casamento e não se intimida em convidar o paquera para ir ao baile de formatura (o que seria impensável num filme desse tipo dez anos atrás). 

A subversão não para por aí. "Casamento Grego 2" traz também uma senhora que adora falar das suas estripulias sexuais com o marido; um rapaz que assume ser gay e é aceito sem drama; uma velhinha engraçada, esperta, lúcida e simpática, responsável por algumas das melhores cenas do longa. Tem ainda um casal da melhor idade que decide renovar os votos do casamento, mas não sem antes passar por uma crise e provocar uma bela discussão sobre o que significa o matrimônio e as suas consequências. 

Há outros filmes que pegaram carona na esteira da pluralidade. Na animação "Zootopia", a protagonista é uma coelha que sonha em ser policial numa metrópole onde todos podem (ou deveriam poder) ser o que quiserem. No terror "Orgulho e Preconceito e Zumbis", as mulheres são as heroínas, com armas e habilidades de dar inveja aos machões dos faroestes. No reboot de "Os Caça-Fantasmas", o trio de marmanjos foi substituído por três valentes atrizes com mensagens feministas. E alguém duvida que a Mulher Maravilha roubou a cena em "Batman X Superman"?

O que vemos hoje nas telonas é o espelho de um pequeno avanço. Todos deveríamos ter o direito de viver em uma "Zootopia" livre de preconceitos. A realidade, apesar das mudanças, continua cruel. Cabe à arte iluminar os caminhos e alimentar o debate saudável sobre os gêneros. Homens, mulheres, trans, coelhos, jovens, velhos... O mundo é de todos. E ir ao cinema, quem diria, virou um antídoto eficiente contra a doença da ignorância.  

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