Excesso de opção

A janela das ilusões

Imagem: http://asemanacuritibanos.com.br

Eu conversava com a minha irmã outro dia sobre o excesso de oferta que nos atormenta hoje. É incrível como as redes sociais dão a impressão de que o mundo é vasto demais pra caber na nossa realidade. Seja pelos retratos felizes da vida alheia, seja pelo apelo sexual constante.

Não me surpreende que tanta gente sofra de depressão, diante de tamanha ansiedade e sensação de impotência. Fato: não dá pra ter tudo. Melhor apreciar a internet, essa ampla janela de ilusões, com moderação e pé no chão.

No campo amoroso, a situação é mais crítica. As prateleiras virtuais nos dão a falsa percepção de que temos um açougue à nossa frente, com carne de primeira. Basta entrar e escolher. Hoje, deixa eu ver, quero filé mignon. A verdade é que a maioria acaba comendo pescoço de galinha. É aquela história da expectativa x realidade.

Todo mundo sabe (ou pelo menos deveria) que não dá pra esperar muita coisa das paqueras de boate e, especialmente, dos aplicativos que se configuram como uma promessa de um provável relacionamento. A questão não é demonizar ou exaltar essa alternativa de sexo fácil. É mais um lance de ponto de vista e mudança de perspectiva. 

Pessoas interessantes, via de regra, não podem ser encontradas em noites mundanas, muito menos numa clicada. São difíceis de achar. Aquelas capazes de despertar paixão e admiração, então, parecem ter migrado para outra dimensão.

O cenário que se apresenta é de uma ironia fina e dolorida. Diante de tanta opção, relutamos em escolher. Por que me ajeitar com alguém, se ali fora, ou mesmo a um clique de distância, posso experimentar algo diferente e, quem sabe, mais excitante? Por que namorar uma única pessoa se posso ter o mundo? Ou quase?

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A tentação de tentar um pouco de tudo, só que ao mesmo tempo, é real. É preciso muito autocontrole para equilibrar a estabilidade de um relacionamento com a vontade de dar uma escapulida com aquele gatinho ou gatinha se oferecendo no app. Afinal, faz bem para o ego saber que há, logo ali, mais interessados em potencial do que o parceiro oficial.

Sobre o excesso de opções, já me resolvi há algum tempo. Não quero ter tudo. Nem me interesso por tudo. Entre a excitação do barulho e o conforto do ninho, prefiro o colo quietinho da intimidade, com direito a cafuné e cheirinho de café pela manhã. De vez em quando, sou super a favor de temperar com um agito aqui e ali. Mas não tem jeito, troco fácil todos os apps do mundo pelo sofá, ao lado de quem pode me oferecer o que a internet jamais vai conseguir: o mundo real.

Comentários

  1. Eh..o mundo esta de cabeça para baixo, às vezes, a sensação é de que não estou no tempo , nem no lugar certo....enfim.... Excelente texto.. Marília.zivi

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    1. Somos dois deslocados, então, mana. E acho até bom isso. Prefiro assim. Toca aqui.

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