Valeu, Simon!
Existem duas formas de analisar "Com amor, Simon", em cartaz no Brasil. A primeira: muito "água com açúcar" para retratar a rotina de um jovem homossexual enrustido.
A segunda (e a que mais me interessa): é um filme que, de tão alegre, pode, paradoxalmente, ser um divisor de águas no jeito como os gays são retratados na telona.
Hollywood, convenhamos, sempre foi cruel com a turma do arco-íris. Ou a moçada é motivo de piada, ou morre de Aids, ou é discriminada até pelo cachorro.
Desta vez (oba!), o filme é feliz, um indício animador de que a realidade, antes tão estigmatizada, está mudando. Para melhor.
"Com amor, Simon" é baseado em um livro e tornou-se um filme despretensioso na forma e timidamente ambicioso no conteúdo, sob a batuta do diretor Greg Berlanti.
Simon, interpretado pelo simpático Nick Robinson, é um jovem gay com o dilema clássico: sair ou não do armário?
Entre algumas lágrimas e muitos sorrisos, a história transcorre com uma mensagem sensata: a de que não importa a orientação sexual, e sim o caráter.
O personagem, portanto, sofre muito mais quando age com malícia do que pelo fato de gostar de rapazes.
O filme também brinca, de maneira leve, com alguns estereótipos equivocados acerca do universo colorido. Por exemplo, o de que os homossexuais são sempre afeminados, ou o de que todos os rapazes transam entre si, simplesmente porque são gays.
Simon faz o tipo heteronormativo: comporta-se como um homem heterossexual, o que não o impede de circular entre seus pares mais alegres.
A trilha do filme é uma belezinha, baseada no som deliciosamente cafona dos anos 1980 e 1990.
E, nem de longe, o personagem sente o peso do preconceito da família ou fanáticos religiosos. Pelo menos no cinema, o mundo é tolerante e carinhoso com os diferentes.
"Com amor, Simon" é surpreendentemente pra cima e trata do tema com a naturalidade que falta, por exemplo, às novelas da Globo. Simon ainda se dá bem no final, transformado pelo amor que recebe, não pelo ódio.
"O problema de se assumir para o mundo é...e se o mundo não gostar de você?", ele pergunta. Fique tranquilo, garoto. Considerando os 40 milhões de dólares que o filme arrecadou só na terra do homofóbico Trump, eu arrisco a dizer que muita gente curtiu.
Valeu, querido.
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